A importância da masturbação feminina para o processo de autoconhecimento
O estigma sobre a masturbação e a sexualidade feminina
A sexualidade feminina sofreu e ainda sofre diversas repressões por parte da sociedade patriarcal e sexista. Os homens detêm maior liberdade sexual do que as mulheres, pois desde adolescentes são incentivados a falar sobre suas práticas, como a masturbação. Por outro lado, o assunto é encarado como um tabu para as meninas, que, por sentirem-se constrangidas, praticamente não abordam o tema em suas conversas. Além disso, os resultados de buscas na internet sobre masturbação masculina são mais informativos, explicando sobre a prática, enquanto que os resultados sobre masturbação feminina são, em sua maioria, pornográficos e sexualizados.
Um estudo realizado pela educadora sexual Debby Herbenick, mostra que cerca de 44% dos homens se masturbavam de duas ou a três vezes por semana, enquanto que, para as mulheres, essa proporção era de apenas 13%. Embora os direitos sexuais femininos tenham se ampliado ao longo dos tempos, ainda existe uma visão machista e estigmatizada sobre o prazer da mulher; Célia Arribas, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), evidencia sobre o fato de a relação entre mulheres e sexo ter sido focada por tanto tempo na reprodução da espécie e ter sido ignorada quase que completamente a satisfação sexual feminina.
Ademais, existem normas culturais e religiosas que perpassam a temática e auxiliam para a estigmatização da masturbação feminina. As religiões cristãs, por exemplo, durante muito tempo trataram o tema como algo proibido e até relacionando o desenvolvimento de doenças devido à prática.
O prazer feminino e a importância do autoconhecimento
Conhecer nossos corpos e os pontos mais sensíveis é imprescindível para obter autoconhecimento e para entender nossos gostos e singularidades. O corpo feminino tem diversas zonas erógenas além do clitóris e explorá-las é uma atividade saudável e prazerosa.
Dessa forma, além de ser um método que ajuda a reforçar a autoestima e a autoaceitação, se tocar é uma forma de perceber como o todo o corpo tem potencial de prazer. Experimentar diversas sensações prazerosas que nossos corpos têm a oferecer é o primeiro passo para nos permitir e conhecer.
A partir do momento que abrimos espaço para descobrir o que gostamos ou não, vencemos, aos poucos, a barreira da vergonha que está intrínseca nas mulheres em explorar nosso próprio prazer.
Um olhar profissional: Larissa Pombo sobre a importância da masturbação
A masturbação é importante na vida de pessoas de todos os gêneros, em especial as que são repreendidas de diversas formas ao longo da vida.
A sexualidade humana é complexa e nossa sociedade é atravessada por uma cultura machista, o que traz diversos prejuízos no coletivo e também nos aspectos individuais.
Masturbação é uma das melhores formas de nos conectarmos com nosso corpo de forma muito íntima. Pode trazer diversas questões à tona, como por exemplo autoestima, sentimentos incômodos como culpa e vergonha, corporeidade, percepção de significados do que sexo representa pra nós, saúde íntima, entre outros pontos.
Ao se conhecer melhor, a comunicação com parceria (s) geralmente é muito facilitada, o que gera maiores prazeres e vínculos mais fortes e saudáveis.
A masturbação de mulheres cis no geral é desencorajada desde a infância, enquanto é incentivada e normalizada aos homens cis. Quebrar esse tabu é muito importante para a vivência de uma vida sexual satisfatória para a maioria dessas mulheres.
Também há questões em relação a um número significativo de mulheres trans que têm disforia genital, o que pode ser trabalhado com profissionais especializados para ajudarem a superar essas travas com estratégias individualizadas, caso a caso.
Além disso, há vários recortes que interferem nessa relação com a masturbação, como religião, classe social, etnia, cor da pele, etc. Mulheres pretas são atravessadas de maneira diferente em relação a mulheres indígenas, que por sua vez são diferentemente afetadas em comparação a mulheres brancas e assim por diante.
E um adendo: masturbação também não deve ser uma obrigação. E sim uma deliciosa, e por vezes confrontante, possibilidade.
A medicina e a sexualidade feminina
As informações e estudos em torno da sexualidade da mulher e da anatomia do corpo feminino sempre foram realizadas por homens, até nos dias atuais. Há muito tempo a sexualidade feminina foi pautada em cima da procriação da espécie humana, desconsiderando o prazer da mulher. A partir da segunda onda do feminismo, em que trouxe como um dos focos o acesso à anticoncepcionais, permitiu às mulheres o controle da natalidade, trazendo como pauta o interesse feminino pelo prazer sexual. Entretanto, mesmo com o avanço da medicina nesta área ao longo do tempo, a maior parte das pesquisas e tecnologias desenvolvidas foram direcionadas à reprodução, tendo avanços significativos em campos como a fecundação, a amamentação e o parto.
Atualmente a sexualidade feminina vem sendo mais explorada pela lente do prazer, com isso, nas últimas décadas, vêm ocorrendo um maior desenvolvimento no mercado erótico. Tecnologias como vibradores, géis sexuais e dildos vem sendo cada vez mais explorados e comercializados para estimular os limites do prazer da mulher.
Um ato de amor próprio e empoderamento
A masturbação é, além de algo saudável, um ato de empoderamento feminino. Mulheres passam a vida toda ouvindo o que devem ou não fazer com seus corpos, como devem ou não se portar em público e no privado. Toda essa repressão moralista repercute em dados assustadores acerca do prazer feminino. Segundo um estudo realizado pela Universidade de Chicago, cerca de 40% das mulheres não se masturbam frequentemente e 70% delas dizem não chegar ao clímax quando transam com seus parceiros.
Por isso, se tocar e se autoconhecer é um passo importante para nossa autoestima, a partir disso, a masturbação pode ser um ato de empoderamento para as mulheres.
Curiosidades sobre a masturbação feminina
Não existe problema em se masturbar todos os dias
Se masturbar diariamente é considerado normal e benéfico para sua saúde. Segundo a psciterapeuta Lelah Monteiro, a prática só é considerada patológica quando acontece ao menos oito vezes por dia.
Por isso, se tocar e se autoconhecer é um passo importante para nossa autoestima, a partir disso, a masturbação pode ser um ato de empoderamento para as mulheres.
Cuidado ao utilizar a saliva para lubrificar na hora da masturbação
Há diversos problemas em utilizar a saliva para lubrificar a vagina. Segundo Carla Cecarello, sexóloga especializada em Sexualidade Humana, "O PH da saliva pode estar mais ácido, trazendo problemas para a região genital. Por isso, é imprescindível usar géis à base de água e silicone, porque a composição é neutra”.
Se masturbar não reduz o interesse por sexo
Muitas mulheres acreditam que se masturbar frequentemente pode ocacionar a perda do interesse por sexo. Contudo, isto não é verdade, de acordo com Cecarello “A masturbação apenas aumenta os níveis de fantasia sexual da mulher, fazendo com que ela se conheça melhor”.
A masturbação pode ser mais eficiente do que a penetração para chegar ao orgasmo
Carla Cecarello disserta que é mais fácil chegar ao orgasmo sozinha do que com uma companhia. Segundo a sexóloga, “O contato com o clitóris é muito mais direto e facilitado na masturbação. Com a penetração, há o músculo e a mucosa que ficam atrapalhando o contato direto do pênis ou quaisquer objetos com o clitóris. Portanto, se masturbar é uma maneira mais rápida e fácil de se atingir o orgasmo.”
Algumas estatísticas sobre a masturbação feminina
41% das mulheres dizem se masturbar diariamente
Cerca de 40% das mulheres não se masturbam frequentemente e 70% delas dizem não chegar ao clímax quando transam com seus parceiros.
Cerca de 44% dos homens se masturbavam de duas ou a três vezes por semana, enquanto que, para as mulheres, essa proporção era de apenas 13%.
44.4% das mulheres se masturbam pela primeira vez entre 10 - 14 anos
Dicas para melhorar seu prazer na hora da masturbação
Para auxiliar e melhorar o seu prazer durante a masturbação, separamos algumas dicas da terapeuta especializada em sexualidade e saúde ginecológica, Roberta Struzani. Confira a seguir: